O que você sabe sobre o Diesel de Cana?

por Gabriel de Jong, membro fundador da Legado Consultoria Jr

O Brasil desde os primórdios atraiu o interesse do mundo por uma safra forte da cana-de-açúcar. As tecnologias do uso da cana na produção de açúcar e de etanol já são tradição no país, porém a empresa americana de biotecnologia, Amyris, trouxe um novo horizonte com o Diesel de cana. Com uma nova tecnologia e o potencial brasileiro, pode-se suprir a demanda energética nacional de maneira sustentável, ou seja, por fontes renováveis.

A origem da empresa

Nascida em 2003, na cidade de Emeryville, Califórnia (EUA), pela mão de pesquisadores da Universidade de Berkeley, ganhou notoriedade em 2005 pela doação da fundação Bill e Melinda Gates visando incentivar a produção sintética da artemisina, princípio ativo do medicamento contra a malária.

Uma nova tecnologia

Saccharomyces cerevisae: a levedura

O poder da biotecnologia associado à tecnologias de processos fermentativos permitiram que a Amyris expandisse seu mercado. Em 2006, investimentos de gigantes de combustível americanas deu suporte ao campo de pesquisa de biocombustíveis por desenvolver uma cepa de levedura transgênica que seria inativada para a fermentação de açúcar em álcool, porém ativada para a rota de isoprenóides, lipídios naturais (como em vitaminas lipossolúveis – ex: vitamina A – e em essências de plantas – ex: mentol), fossem gerados moléculas de hidrocarbonetos. Tal processo gerou o farneseno, uma molécula plataforma para produção de biocombustíveis, como querosene de aviação e diesel para automóveis.

O Mercado Brasileiro

Em 2008, a Votorantim Novos Negócios (VNN), o braço de venture capital do grupo Votorantim, investe no uso da matéria-prima em abundância no Brasil em troca dos privilégios de distribuição. O hidrocarboneto produzido superou as expectativas dos mais otimistas. Não só a produtividade foi alta devido à riqueza da cana-de-açúcar, como foram obtidos produtos de alta pureza devido às ferramentas moleculares aplicadas, além da escalabilidade alcançada.

O Brasil já é um grande produtor de biocombustíveis (combustível de origem de biomassa, ex: vegetais) como biodiesel de soja que hoje integra 7% do diesel de petróleo, gerado a partir da esterificação do óleo. Porém, o biodiesel (conjunto de ésteres de ácidos graxos advindos da hidrólise de triaciglicerídeos) não se adapta tão bem aos motores veiculares e nem é apto a substituir o diesel de petróleo (hidrocarbonetos) por suas propriedades físico-químicas, como a viscosidade.

Processo químico e bioquímico

A fermentação pode ocorrer nas usinas, como as que antes produziam alcóol, apenas substituindo  a  levedura. O agente fermentativo é trocado do  natural  pelo biotecnológico (alterado geneticamente), atentando-se ao rigor do manuseio destes organismos.

Usinas consistindo de reatores semi-contínuos com tempo médio de 1 dia para produzir o isoprenóide. Após terminada a fermentação, é feita a centrifugação onde se separa a levedura para ser reutilizada e evitar desperdício e risco de biossegurança. O sobrenadante é tratado para obter o Biofene®(nome comercial do farneseno), que é vendido a outras empresas químicas (ex: Procter & Gambler, Shell, Cosan, …) onde é processado a uma vasta gama de bioprodutos.

Para o Diesel de Cana, é necessária a etapa de hidrogenação do Biofene®.

Sustentabilidade

Por vir da cana-de-açúcar, um vegetal fotossintético, sua produção é capaz de absorver quantidade superior de gás carbônico (CO2) do que a gerada pela sua queima. Além de ser vantajoso em relação a outros biocombustíveis, por não fazer uso de matéria-prima base de alimentação, como soja e milho, apesar de ocupar espaço de terras cultiváveis, o aproveitamento por hectare é maior e sem gerar problemas ao solo.

Outro ponto chave é a ausência de enxofre, composto responsável por gases da chuva ácida (SOx – dióxido e óxido de enxofre) e que geram corrosão no motor e no downstream do petróleo. O resultado é uma fumaça com opacidade 30% menor em média.

Assim, a produção do Diesel de Cana é uma ótima tecnologia no mundo dos combustíveis pelo seu forte apelo ambiental.

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