Os impactos da proibição dos plásticos descartáveis
Dia 5 de Junho, dia Mundial do Meio Ambiente, nada mais justo do que falarmos sobre uma das principais formas de agressão a este: o plástico.
No início do século XX, Leo Baekeland, jovem belga que emigrara para os Estados Unidos, desenvolveu a primeira versão verdadeiramente sintética do que hoje chamamos de plástico. Desde então, segundo uma pesquisa publicada no periódico científico Science Advances, o ser humano já produziu mais de 8,3 bilhões de toneladas desse material. Sendo que metade dessa produção ocorreu nos últimos 13 anos do período estudado, isto é, entre 2002 e 2015.
Então, se a Humanidade já atravessou diversas eras, como a Idade da Pedra e Idade dos Metais, pode ter acabado de entrar na Idade do Plástico, de acordo com outro estudo publicado na mesma revista, que sugere que o atual período geológico pode se tornar conhecido pela adoração a esse material. Afinal, o plástico está presente no nosso dia a dia e criamos uma dependência por esse produto
Veja, por exemplo, a imagem ao lado. Numa edição de 1955 da revista Life, uma família americana celebra o início de um novo estilo de vida, que se tornou possível com o surgimento do plástico descartável. Objetos para serem usados uma única vez facilitaram a vida das pessoas, mas resultam em boa parte dos resíduos que hoje invadem os oceanos.
Mas se o plástico é tão importante na vida moderna, porque surgiu a ideia de proibi-lo?
Em 2015, o vídeo de uma tartaruga com um canudo entalado em suas narinas viralizou na internet. Esse acontecimento deu força a uma onda mundial contra o uso do plástico, principalmente os descartáveis, que vinha surgindo lentamente até então. A China, um dos países que mais utilizam o material, divulgou um grande plano para reduzir plásticos de uso único em todo o país. A ela juntam-se a Índia, que proibiu descartáveis em sua capital; o Quênia, tornando ilegal o uso de sacolas plásticas; a União Europeia, que aprovou uma legislação para banir uma série de produtos plásticos descartáveis; e vários outros países, inclusive o Brasil.
Várias cidades brasileiras têm adotado medidas acerca deste problema. Fernando de Noronha tornou-se o primeiro lugar do Brasil a aprovar o banimento total dos descartáveis. O Rio foi a primeira cidade a banir canudos de plástico e está reduzindo gradualmente as sacolas de supermercados, proibindo-as. Em São Paulo foi sancionada uma lei que proíbe estabelecimentos de fornecer utensílios plásticos descartáveis.
Afinal, o que são esses descartáveis e quais os impactos de seu uso e produção?
Fiel ao seu nome, um plástico descartável é um plástico de uso único projetado para ser usado uma vez e depois jogado fora ou reciclado. Isso inclui tudo, desde garrafas plásticas, talheres e sacolas a lâminas de barbear descartáveis e varas para balões – realmente qualquer item de plástico que você usa e então descarta imediatamente. E cerca de 35% de todo o plástico produzido no mundo por ano são usados apenas uma vez, por apenas 20 minutos, em média.
Daquelas 8,3 bilhões de toneladas que mencionamos no início, cerca de 6,3 bilhões já foram descartados, apenas 9% foi reciclado, 12% foi incinerado e 79% está acumulado em aterros ou poluindo o ambiente natural. “A maior parte do plástico não é biodegradável em nenhum sentido, portanto o lixo plástico gerado pelos humanos poderá permanecer conosco por centenas ou até milhares de anos”, disse uma das autoras do estudo, Jenna Jambeck, professora da Universidade da Geórgia.
É… se a frota de Pedro Álvares Cabral estivesse cheia de garrafinhas plásticas, esse lixo, ou pelo menos as consequências dele, ainda restaria entre nós. Cinco séculos depois.
E as perspectivas não são boas, seja do ponto de vista ambiental ou mesmo do econômico
Se continuarmos no ritmo de produção e consumo de descartáveis, em 2050, os oceanos terão mais detritos desse material, em peso, do que peixes, alertou o Fórum Econômico Mundial. E no mar acabam sendo ingeridos por animais, tanto inteiros como fragmentados em pedaços de diversos tamanhos, até mesmo como partículas muito pequenas, os microplásticos. Estes podem, até, dependendo da sua quantidade e densidade, obstruir a passagem da luz e interferir no processo da fotossíntese das algas. Essa contaminação, além do prejuízo óbvio a fauna e flora marinha, também afeta o ser humano. Micro e nanoplásticos vêm sendo consumidos por humanos via ingestão de sal e pescados.
Vale lembrar que a produção desses plásticos, por si só, também gera um grande impacto ao meio ambiente. Para sua produção são consumidos petróleo ou gás natural (ambos recursos naturais não renováveis), água e energia; liberados efluentes (rejeitos líquidos); e emissões de gases tóxicos e do efeito estufa. A poluição do plástico afeta a qualidade do ar, do solo e sistemas de fornecimento de água. A queima ou incineração do plástico pode liberar na atmosfera gases tóxicos, extremamente prejudiciais à saúde humana, provocando aumento de problemas respiratórios, doenças cardíacas e danos ao sistema nervoso de pessoas expostas.
E não é só a saúde do planeta que sofre, o descarte desenfreado desse material gera mais de US$ 8 bilhões de prejuízo à economia global. Levantamento do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), aponta que os principais setores diretamente afetados são o pesqueiro, comércio marítimo e turismo.
Agora que sabemos os problemas gerados, vem a pergunta: Como resolve-los?
Portanto, diante de todos os dados apresentados, a proibição dos descartáveis vem como forma de mitigar esses impactos, mas não deixa de ser uma medida paliativa. É necessária uma mudança de paradigma aliada à criação de consciência ambiental: atualmente, em pesquisa feita pelo IBOPE a pedido da Cervejaria Ambev, 66% dos brasileiros afirmam saber pouco ou nada a respeito de coleta seletiva.
O banimento, sozinho, não educa a sociedade a consumir conscientemente e deve vir junto com soluções que não agridam tão intensamente o planeta, mas que sejam capazes de substituir o plástico e ao mesmo tempo permitir que estabelecimentos e serviços que dependiam dele possam continuar funcionando.
Nesse sentido, um estudo do WWF aponta possíveis caminhos com potencial de estimular a criação de uma cadeia circular de valor ao plástico: reduzir o consumo de plástico resulta em mais opções de materiais, inclusive reciclados, que sirvam como opção ao plástico virgem, garantindo que seu preço reflita plenamente seu custo na natureza e, assim, desencorajando o modelo de uso único. “Criar uma cadeia circular de valor para o plástico requer melhorar os processos de separação e aumentar os custos por descarte, incentivando o desenvolvimento de estruturas para o tratamento de lixo”, afirma Gabriela Yamaguchi, Diretora de Engajamento do WWF-Brasil.
Mas com ações simples no dia a dia podemos fazer nossa parte: carregue sacolas retornáveis; use garrafas reutilizáveis para beber água; diga não aos descartáveis, como canudos, copos, talheres; e separe para reciclagem todo plástico que utilizar em casa! Gostou e vai começar a praticar? Veja mais em: 12 gestos para usar menos plásticos em 2020.